Como iniciou a imunoterapia?
A imunoterapia para tratar o câncer é percebida por muitos como um avanço relativamente recente. Contudo, ela já existe com nomes diferentes desde a Antiguidade. As primeiras tentativas científicas de compreender o sistema imunológico dos pacientes para tratar o câncer podem ser atribuídas a dois médicos alemães, Fehleisen e Busch, que constataram a regressão significativa de um tumor após uma infecção cutânea.
Os próximos avanços significativos vieram de William Bradley Coley, conhecido hoje como o Pai da Imunoterapia. Foi ele quem primeiro tentou controlar o sistema imunológico para o tratamento do câncer ósseo em 1891. Suas realizações passaram despercebidas por mais de cinquenta anos, como diversas descobertas no campo da imunologia e a existência de células T.
Mais recentemente, novos estudos intensificaram a pesquisa em direção à imunoterapia contra o câncer como é abordada hoje: o desenvolvimento bem-sucedido de novos inibidores de checkpoint, a terapia com células CAR T e vacinas. Vamos combinar que, neste momento, quando falo em imunoterapia estou me referindo de maneira genérica somente aos chamados “inibidores de checkpoint”, que são medicamentos que destravam nosso sistema imunológico para que ele reconheça e lute contra as células tumorais. Não vou abordar aqui as vacinas ou terapias genéticas.
Estes novos imunoterápicos estão gerando resultados impressionantes em múltiplas situações. Em alguns pacientes são capazes de induzir uma resposta completa (regressão total do tumor) persistente, de longo prazo, levando a expectativa de que alguns casos previamente incuráveis possam estar livres da doença a longo prazo.
Por este motivo, e pelas possibilidades futuras, a imunoterapia na atualidade é considerada por muitas autoridades em saúde como um dos maiores avanços contra o câncer. Os dois cientistas laureados com o prêmio Nobel em Medicina em 2018 foram justamente premiados pelos trabalhos que levaram ao desenvolvimento da imunoterapia moderna.
Mas afinal, quem pode ser beneficiado pela imunoterapia?
A imunoterapia está mudando o tratamento de vários tipos de câncer, mas depende algumas vezes do tipo de tumor e/ou da presença de um marcador específico de resposta. Este é um exame realizado no próprio tumor e, assim como o tratamento, é indicado pelo oncologista clínico.
Como a imunoterapia funciona contra o câncer?
Como parte de sua função normal, o sistema imunológico detecta e destrói células anormais e muito provavelmente previne ou restringe o crescimento de muitos tipos de câncer. Por exemplo, as células imunológicas, às vezes, são encontradas dentro e ao redor de tumores. Essas células, chamadas de linfócitos infiltrantes de tumor ou TILs, são um sinal de que o sistema imunológico está respondendo ao tumor. Pessoas cujos tumores contêm TILs geralmente se saem melhor do que pessoas cujos tumores que não os contêm.
Em quais situações clínicas a imunoterapia pode fazer parte do tratamento?
Entre os tumores responsivos estão alguns subtipos de câncer de mama, os melanomas, os tumores renais, câncer de pulmão, esôfago, cabeça e pescoço, e os linfomas.
A cada dia novas indicações surgem conforme os estudos clínicos vão esclarecendo quais as situações que se beneficiam deste tratamento; se utilizado isoladamente ou em conjunto com quimioterapia ou radioterapia. O tempo de uso e os efeitos a longo prazo também ainda são incógnitas.
Entretanto, somente uma parcela dos pacientes é elegível e deve utilizar este tratamento, que vale reforçar deve ser indicado sempre por um oncologista clínico.
Onde você pode ser tratado com a imunoterapia?
A imunoterapia é administrada por via endovenosa em uma clínica ou hospital oncológico (especializada em tratamento de câncer) sempre sob a supervisão de um oncologista.
Como saber se a imunoterapia está funcionando?
O médico oncologista acompanha o tratamento com testes e exames físicos e outros diferentes tipos de exames para medir o tamanho do tumor e procurar as alterações que a imunoterapia proporciona.
Qual é a pesquisa atual em imunoterapia?
Existem vários tipos principais de imunoterapia sendo usados para tratar o câncer. Além destes, muitos outros estão sendo estudados. Na verdade, como os pesquisadores descobriram maneiras de ajudar o sistema imunológico a reconhecer as células cancerosas e fortalecer sua resposta para destruí-las, eles estão se concentrando em várias áreas significativas para melhorar a imunoterapia, incluindo:
- Encontrar soluções para resistência – testando combinações de inibidores de ponto de controle imunológico e outros tipos de imunoterapia, terapia direcionada e radioterapia para superar a resistência à imunoterapia;
- Encontrar maneiras de prever as respostas à imunoterapia – sabe-se que uma pequena parte das pessoas que recebem imunoterapia responderá ao tratamento com eficácia. Então, busca-se maneiras de prever quais pessoas responderão ao tratamento;
- Aprender mais sobre como as células cancerosas agem – como elas evitam ou suprimem as respostas imunológicas contra elas. Uma melhor compreensão de como as células cancerosas se movem no sistema imunológico pode levar ao desenvolvimento de novos medicamentos que bloqueiam esses processos;
- Reduzir os efeitos colaterais – estudos para que eles não aconteçam ou sejam mínimos no tratamento com imunoterapia.
Dra. Daniela Lessa
Médica Oncologista – Diretora da Oncosinos | Novo Hamburgo/RS